Em nome da Associação Médico-Espírita
do Brasil (AME-Brasil) expresso a minha indignação e a dos médicos que
represento diante do posicionamento do Conselho Federal de Medicina (CFM) que
se manifestou favoravelmente ao aborto até as 12 semanas de gestação, caso a
mãe assim o deseje.
Ao contrário do que foi anunciado, o
tema não foi amplamente debatido entre os médicos. Em nenhum momento fomos
notificados de que o CFM pretendia apresentar tal posicionamento. É de se
ressaltar que no “I Encontro Nacional dos Conselhos de Medicina”, onde foi
feita a votação, e mesmo no site da Instituição, não houve anúncio de nenhuma
notícia sobre o assunto, apenas foi passada a informação de que haveria uma
mesa redonda “Aborto e Desigualdade Social”. Nada mais.
Isso pode se acompanhar e constatar
em http://portal.cfm.org.br/index.php?option=com_content&view=article&id=23610:belem-sedia-debates-polemicos-no-i-encontro-nacional-dos-conselhos-de-medicina-2013&catid=3:portal
Conclui-se que não houve
transparência do CFM nessa tomada de posição de magna importância para os
destinos da nação brasileira, nem tampouco no anúncio da votação e no modo como
foi feita. Não se respeitou a tradição médica do nosso país que sempre lutou em
defesa da vida. Tudo leva a crer que foi manobra política de uma minoria que
não tem representatividade para falar em nome de 400 mil médicos.
A nosso ver, as consciências humanas
têm um compromisso fundamental com a verdade, por isso devem mergulhar fundo no
estudo do extraordinário fenômeno da vida, em busca do seu real significado,
sem aceitar o raciocínio dogmático reducionista, que tenta encarcerá-lo num
mero jogo de palavras, ao invés de discutir as inúmeras incógnitas para as
quais a ciência materialista não tem respostas.
Aos menos avisados que,
preconceituosamente, procuram desqualificar os nossos argumentos contra o aborto
como sendo de mentalidades religiosas, temos a dizer que, embora os
consideremos legítimos, podemos até mesmo abdicar deles para demonstrar através
de pesquisas científicas, e não de suposições, que a vida não só é um bem
indisponível, mas que há vida indisponível no embrião e no feto.
O pluralismo democrático diz respeito
à convivência de opiniões, comportamentos e posições ideológicas distintas no
seio de uma comunidade, porém não à prática de delitos em seu nome. Esta é
nossa resposta aos que nos dizem que o aborto é um direito da mulher. Não
existe engano maior. Tirar a vida de alguém é crime. A mulher, tanto quanto a
equipe médica, o Estado, ou o companheiro, não tem esse direito. E o
Ordenamento Jurídico Brasileiro reconhece a nossa posição.
O artigo 5º da Constituição
Brasileira garante a inviolabilidade do direito à vida, defendendo-o como bem
fundamental do ser humano. É certo que o artigo 4º afirma que a personalidade
civil do homem começa no nascimento com vida, mas a lei põe a salvo que ela
deve ser defendida desde a concepção. (Código Civil, lei federal 3071). E mais,
a Convenção Americana sobre Direitos Humanos, celebrada na Costa Rica, em 22 de
novembro de 1969, deixou claro, no chamado Pacto de São José da Costa Rica,
assinado por inúmeros países, entre os quais o Brasil, que esse direito deve
ser protegido, desde o momento da concepção. A Lei Maior de nosso país espelha,
portanto, a vocação pacífica do nosso povo, uma vez que este, em sua imensa
maioria, já se manifestou contrariamente ao aborto, que é uma das maiores
violências que se pode cometer contra o ser humano.
Insistimos que é preciso buscar na
Ciência as respostas à pergunta essencial: “Onde começa a vida?”. Embora a
ciência não explique como uma célula unidimensional (zigoto) produz um bebê
tridimensional, não saiba, portanto, quais os processos que regulam os
embriões, ela já nos oferece inúmeros argumentos para sermos contra o aborto. É
o que faremos a seguir, daremos em rápidas pinceladas alguns desses argumentos.
Aprendemos nos melhores tratados de
embriologia que a vida é um continuum que vai do zigoto (célula-ovo) ao velho,
sem solução de continuidade. Ainda que existam vozes discordantes, este é um
forte argumento científico em favor do respeito à vida desde a concepção. Sendo
a vida um bem indisponível, atentar-se contra ela, seja em que fase for, é
crime. Além disso, sendo possível demonstrar que o embrião tem vida, não
haveria heresia maior do que se considerar o aborto um direito da mulher.
Cairia, automaticamente, por terra, sua propalada autonomia para decidir quanto
à interrupção da gravidez. Nem a gestante e nem ninguém pode decidir quem vive
e quem morre. Mas esse não é o único argumento da Ciência em defesa da vida. Há
muitos mais.
Embora concordemos com alguns
fundamentos da Teoria neodarwinista da evolução das espécies e os adotemos,
constatamos que ela tem muitas falhas. A principal delas é ancorar no acaso as
explicações da evolução das espécies. O acaso não explica a vida. Dois físicos
conceituados, Igor e Grichka Bogdanov, juntamente com matemáticos do CERN, o
mais importante Centro de Pesquisas da Europa em Física das Altas energias,
demonstraram que é impossível juntar em uma célula, por acaso, as duas mil
enzimas de que ela tem necessidade para funcionar. Embora sejam verdadeiras e
de fato tenham ocorrido, as mutações e a seleção natural são insuficientes para
explicar a evolução das espécies. O acaso, por si só, não tem o poder de
organizar e conduzir. A evolução das espécies deu-se de forma ordenada,
obedecendo a um projeto altamente inteligente, desde os cristais, as bactérias
e amebas até o ser humano. O ser vivo é uma ilha de organização em meio ao
caos. Uma célula tem arranjo inteligente das partes. Ela foi planejada.
Recentemente, estudos bioquímicos da célula revelaram que há, nela, um arranjo
intencional das partes, com indícios claros de que foi planejada. Essas e
outras pesquisas científicas tem apontado para a existência de um Planejador
Inteligente, o Grande Doador a quem chamamos Deus.
A ciência diz que a célula-ovo não é
um amontoado de células descartáveis. A vida de um novo ser tem início nela e
prossegue, sem parar, em um movimento continuo do embrião ao velho, sendo que
todo o padrão tetradimensional do novo ser está contido no zigoto. A célula-ovo
tem DNA próprio, fruto da união do gameta masculino com o feminino. Recebe, é
obvio, os genes da mãe, mas seu genoma é bem diferente. A mãe hospeda o novo
ser, mas o feto não faz parte intrínseca do seu corpo. Para não ser expulso como
corpo estranho pelo sistema de defesa do organismo materno o feto produz
substâncias que o mantém vivo, durante a gestação, estabelecendo-se um acordo
tácito entre hóspede e hospedeira. Prova cabal de que são dois seres
distintos.
Estudos realizados desde a década
1970 sobre psiquismo fetal demonstram que a memória está presente, antes da
formação do cérebro, desde o início da gestação, e que o embrião é capaz de
comandar sua própria mente, adaptar-se e adequar-se a situações novas.
O embrião tem, portanto, vida
própria, independente da mãe. De forma alguma, o aborto pode ser considerado um
direito da mulher.
O aborto é uma das formas mais
sangrentas de violência, porque o ser em formação não tem como se defender. E a
mulher que recebeu do Ser Supremo a missão transcendente de gerar vidas,
comumente, não se deixa aprisionar pela visão hedonista que impera no mundo.
Sobretudo, quando ela vê as imagens do feto em gestação, quando acompanha os
batimentos do coraçãozinho de seu filho a partir das três primeiras semanas.
Não, ela não pensa em aborto. O que a gestante precisa é de amparo à
maternidade, de esclarecimentos quanto ao uso de métodos anticoncepcionais
confiáveis e de vias fáceis de acesso a eles, para que possa planejar sua
família. Uma sociedade organizada, segundo as leis fundamentais da vida
obrigatoriamente deve ter o amor na sua base de sustentação. Entre outras
ações, tem o dever de cuidar da educação de crianças e jovens, dar todo o apoio
à maternidade e à paternidade responsáveis, além de cuidar dos que trabalharam
uma vida toda e tem de ser amparados na velhice.
A sociedade que apela para o aborto
declara-se falida em suas bases educacionais, porque dá guarida à violência no
que ela tem de pior, que é a pena de morte para inocentes. Compromete,
portanto, o seu projeto mais sagrado que é o da construção da paz.
Espero, caros colegas, que nos unamos
para que a nossa nação não tenham falidas as suas bases educacionais. Espero
vê-los todos lutando em defesa da vida e da paz.
Marlene Nobre
Presidente da Associação
Médico-Espírita do Brasil
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