SEXO NO ALÉM
Marlene Nobre
Rosto de mulher com a boca aberta.
Como é natural, muitas pessoas tem curiosidade em saber se há constituição de
lares no além e, consequentemente, se há relações sexuais entre os seres que se
unem em matrimônio e, mais, se existe gestação no mundo espiritual.
Encontrei as respostas nas mensagens
que os desencarnados enviaram a seus pais e parentes encarnados, através de
Chico Xavier.
Nas 500 mensagens que estudei,
publicadas em mais de uma centena de obras, encontrei as respostas que
procurava e coloquei-as no meu livro “Nossa Vida no Além”. No capítulo
Inquietações da Libido, abordo muitas dessas questões.
Aprendi que nas regiões mais
evoluídas há também o casamento das almas, que se unem conjugadas pelo amor
puro, gerando obras admiráveis de progresso e beleza.
No caso, porém, em que esse
enlace deva ser adiado, por circunstâncias inamovíveis, os Espíritos de
comportamento superior aceitam, na Terra, a luta pela sublimação das forças
genésicas, aplicando-as em trabalho digno. Neste caso, não aceitam ligações
poligâmicas, mas abstenção do comércio poligâmico, tanto mais intensamente
quanto mais ativo se lhes revele o esforço no acrisolamento próprio.
Por isso vemos muitas criaturas
encarnadas que, embora separadas de sua alma gêmea, desenvolvem serviços de
amor aos semelhantes, a fim de aplicarem de forma útil suas energias sexuais,
até que, um dia, possa reencontrá-la, nas outras dimensões da vida infinita, e
integrar-se em seu halo energético, na complementação ideal.
Ivo de Barros Correia Menezes, o
Ivinho, enviou vinte cartas para sua mãe, através do médium Chico Xavier, seis
delas estão no livro “Retornaram Contando”, cinco outras em “Gratidão e Paz”, e
algumas esparsas. Em 1983, cinco anos após a sua desencarnação, ocorrida aos 18
anos, desabafou com sua mãe Neide (1):
“Continuo desencarnado e prossigo
querendo casar-me e ser pai de família. Estimo os avós que me favorecem aqui
com os melhores ensejos de ser feliz, mas, no fundo de mim mesmo, o que desejo
realmente será formar na juventude do meu tempo e adotar uma vida caseira, pródiga
de bênçãos de paz. Mãe Neide, é que seu filho anda partido em dois, tamanho é o
meu anseio de realizar-me na condição de homem”.
Em sua sexta carta, psicografada
em 26 de maio de 1984, Ivinho continuou a dialogar francamente com o coração
materno, expondo seus anseios mais íntimos:
“Aquele desejo de passear com uma
garota a tiracolo observando se ela nos serviria para um casamento futuro
prevalece comigo. Muitos rapazes se desligam com facilidade desses anseios.
Tenho visto centenas que me participam estarem transfigurados pela religião e
outros adotam exercícios de ioga com o objetivo de cortarem essas raízes da
mocidade com o mundo. (…)
Meu tio Ivo fala em amor entre os
jovens, apenas usufruindo o magnetismo das mãos dadas, e até já experimentei, mas
a pequena não apresentava energias que atraíssem para longos diálogos sobre as
maravilhas da vida por aqui. Fiz força e ela também; no entanto, nos separamos
espontaneamente, porque não nos alimentávamos espiritualmente um ao outro.
Creio que meu caso é uma provação que apenas vencerei com o
apoio do tempo. (…)
Se estivesse aí faria 25 anos em janeiro próximo; um tempo
lindo para se erguer um lar e criar filhos (…)”.
Realmente a provação, com
vistas à disciplina emotiva, parece implícita no caso de Ivinho, à semelhança de milhares de outros
jovens, como ele mesmo pôde constatar, entre seus companheiros de Vida Nova.
Mas é interessante anotar a sinceridade de seu coração, abrindo a alma por
inteiro para a mãe à procura de apoio.
Nesta mesma carta, continuou:
“Mamãe Neide, por que será que o
homem passa por este período de necessidade de integração com uma outra
criatura no casamento? Sei lá… A minha avó Celeste considera fácil esta
abstenção por aqui, porque nos afirma que, em nossa esfera não há possibilidade
de gravidez. Mas com gravidez ou sem ela eu queria uma companheira loura ou
morena, que se parecesse com você, que me protegesse, que me conseguisse
organizar os lugares para descanso, que eu pudesse beijar muitas vezes para
compensá-la do carinho que me consagrasse. (…) Dizem por aqui que os pares
certos trocam emoções criativas e maravilhosas no simples toque de mãos; no
entanto, estou esperando o milagre”.
Em seus apontamentos, Ivinho lembrou que na Terra, rapazes
e moças buscam dedicar-se aos esportes na
tentativa de liberar o magnetismo do sexo, no entanto, para ele nem mesmo isso
daria jeito. O jovem não disse, mas o esporte
na Espiritualidade tem outras modalidades uma vez que o sistema muscular
estriado ou esquelético existente no corpo físico não permanece no perispírito,
é transformado, durante a histogênese espiritual. Lá não se utiliza senão a
força mental e os deslocamentos individuais operam-se na faixa da volitação. Referiu-se
aos estudos e trabalho que desenvolve sob a orientação dos instrutores
espirituais, e quando interrogado por eles, não teve coragem de mentir quanto
ao seu verdadeiro estado mental em relação ao sexo:
“Enfim, esta é minha atualidade e
não podia omitir o que sinto perante você, minha mãe, minha confidente e minha
melhor amiga. Com o tempo, vamos regularizar tudo isso. Esteja tranquila.
Refiro-me ao assunto, porquanto noto que a maioria dos jovens desencarnados,
que se comunicam dão uma volta no caso e passam por cima; no entanto, sei que a
maioria deles está em posição semelhante à minha. Mas não há de ser nada.
Acredito que vou entrar no cordão das mãos entrelaçadas e depois lhe darei
notícias”.
As cartas do jovem Ivo à sua mãe constituíram,
a nosso ver, um esforço enorme de seu Espírito para adaptar-se ao Plano Espiritual. Com esse desabafo,
possibilitado, durante tantos anos, pela psicografia, ganhou forças para
resistir, contando principalmente com a compreensão da mãe e da avó. No mundo
espiritual, seu avô Barros chegou a sugerir-lhe uma
nova encarnação, mas o jovem apavorou-se: “(…) isso é um assunto grave, porque
não desejo assumir outra personalidade esquecendo os vínculos que me ligam ao
seu querido coração”.
“Enganam-se lamentavelmente quantos possam admitir a
incontinência sexual como regra de conduta nos planos superiores da
Espiritualidade” (2).
Como vemos, ainda temos muito que
aprender lendo as cartas recebidas por Chico Xavier, enviadas por aqueles que
partiram, sobretudo os jovens, aos entes queridos que ficaram na Terra.
Notas
1. Ver Retornaram Contando
– cap.4; Gratidão e Paz – cap. 23; Caravana de amor – cap. 11; Anuário espírita 1988; Folha
Espírita
2. Ver Evolução em
Dois Mundos – Segunda parte: cap. X
Comentários
É importante destacar que Ivinho,
através da psicografia de Chico Xavier, afirma categoricamente que não há
gestação na esfera em que se encontra, ou seja, na esfera espiritual. De
acordo com André Luiz, em "Evolução em dois
mundos" (1), nas regiões inferiores, onde predomina a licenciosidade,
encontramos a poligamia embrutecente, entretanto, nos planos enobrecidos,
existe o casamento de almas conjugadas no amor puro.
Em "Missionários da luz" (2), o instrutor Alexandre se refere ao sexo
como qualidade positiva ou passiva da alma, mencionando que toda manifestação
sexual evolui com o ser, não se restringindo o sexo a mera união carnal. Para
nossa compreensão do tema, Alexandre substitui as palavras união sexual por união de
qualidades que entre as almas denomina-se amor, traduzindo-se a união sexual que se baseia no
amor em permuta sublime de energias perispirituais que alimentam o coração, em força
criadora capaz de gerar não só os filhos carnais, mas também obras generosas da
alma para a vida eterna.
Homens e mulheres cujas almas já
estão em processo de libertação das imposições orgânicas aprendem a permutar os
valores divinos da alma, alimentando-se reciprocamente através de permutas
magnéticas, bastando um olhar, uma palavra, um gesto de carinho para sentirem-se
repletos de força e estímulo para as mais difíceis realizações, explica o
Benfeitor. Na Terra, entretanto, a maioria dos homens ainda estagia no reino das
sensações, e as manifestações sexuais não estão assentadas na lei universal do bem,
gerando sofrimento e perturbação.
Finalizando, transcrevo abaixo os comentários
do instrutor Alexandre:
“__ Não há criação sem fecundação.
As formas físicas descendem das uniões físicas. As construções espirituais
procedem das uniões espirituais. A obra do Universo é filha de Deus. O sexo,
portanto, como qualidade positiva ou passiva dos princípios e dos seres, é
manifestação cósmica em todos os círculos evolutivos, até que venhamos a
atingir o campo da Harmonia Perfeita, onde essas qualidades se equilibram no
seio da Divindade” (2).
Notas
(1) Evolução em Dois Mundos – Segunda parte: cap. X
(2) Missionários da Luz – cap.
13, pág. 198 a 203.
Márcia Colasante
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